O fim do RHIC: por que o maior colisor dos EUA será desligado após 25 anos de descobertas?

Yuri
By -
0


 

Após 25 anos de descobertas revolucionárias, o Colisor de Íons Pesados Relativísticos (RHIC, na sigla em inglês), localizado no Laboratório Nacional Brookhaven, nos Estados Unidos, está prestes a encerrar suas operações. 


Desde o ano 2000, esse gigante da ciência vem liderando pesquisas sobre a origem do universo e os estados mais extremos da matéria. Agora, ele se despede em grande estilo — com uma temporada final repleta de experimentos ousados, tecnologias de ponta e uma promessa de legado duradouro.


(toc) #title=(Índice)


O que é o RHIC e por que ele é tão importante?


O RHIC foi o primeiro acelerador de partículas do mundo capaz de colidir núcleos atômicos pesados, como os de ouro, a velocidades próximas à da luz. 


Seu objetivo principal sempre foi recriar o plasma de quarks e glúons (QGP), um estado exótico e efêmero da matéria que existiu nos primeiros microssegundos após o Big Bang, há cerca de 14 bilhões de anos.


Ao estudar esse "caldo primordial", os cientistas puderam entender melhor como os quarks e glúons, as partículas fundamentais que compõem prótons e nêutrons, se comportam sob condições extremas de temperatura e densidade. 


A pesquisa no RHIC ajudou a decifrar características cruciais do universo primordial — incluindo a fluidez quase perfeita do QGP, uma descoberta considerada um marco na física nuclear.


A última temporada: um encerramento épico


Em 2025, o RHIC entra em sua 25ª e última rodada de experimentos — batizada de Run 25. E, mesmo com a despedida à vista, os cientistas estão longe de diminuir o ritmo. A meta é ambiciosa: registrar mais de 10 bilhões de colisões com o detector STAR e até 50 bilhões com o recém-atualizado detector sPHENIX, que opera pela primeira vez em plena capacidade.


Esses detectores são as “lentes” que permitem observar os efeitos das colisões. O STAR foca em estudar propriedades globais do QGP, como temperatura e viscosidade, enquanto o sPHENIX é especializado na análise de partículas energéticas e jatos, usando tecnologia de ponta, como o primeiro calorímetro hadrônico cilíndrico do RHIC.


Além disso, os estudos APEX (Accelerator Physics Experiments) vêm sendo realizados a cada duas semanas. Eles testam melhorias de desempenho e estabilidade, que serão essenciais para a nova geração de aceleradores.


Do RHIC ao EIC: o futuro já está em construção


O encerramento do RHIC não é um ponto final, mas sim o início de um novo capítulo na física nuclear. Ele será sucedido pelo Colisor de Elétrons-Íons (EIC), uma estrutura que utilizará parte da infraestrutura do próprio RHIC e se concentrará no estudo da matéria nuclear fria — ou seja, o estado dos núcleos atômicos antes das colisões violentas.


Enquanto o RHIC revelou os segredos da matéria em seu estado mais quente e denso, o EIC usará feixes de elétrons para investigar as estruturas internas dos prótons e nêutrons com altíssima precisão. A expertise técnica e os avanços tecnológicos acumulados ao longo das duas décadas de funcionamento do RHIC serão essenciais para o sucesso do novo colisor.


A decisão polêmica: entre ciência e orçamento


Apesar de todo o prestígio científico, o RHIC teve seu fim recomendado por um painel de especialistas em física nuclear. A justificativa? Restrições orçamentárias


Com um financiamento anual limitado, o Departamento de Energia dos EUA (DOE) foi aconselhado a priorizar outros projetos, como a modernização do CEBAF e a construção do FRIB (Facility for Rare Isotope Beams), em Michigan.


A decisão gerou controvérsia dentro da comunidade científica. Muitos lamentam o encerramento de um projeto tão relevante, como o físico Robert Tribble, que afirmou: “Todos saem perdendo se isso realmente acontecer.” 


Ainda assim, a expectativa é que o conhecimento e os dados acumulados pelo RHIC continuem a produzir frutos por muitos anos.


Um legado que ultrapassa gerações


Mesmo com o fim das colisões, o trabalho do RHIC está longe de ser esquecido. Os dados coletados continuam sendo analisados e possuem potencial para revelar novas descobertas. Além disso, centenas de cientistas foram formados e inspirados por esse projeto, levando adiante a chama da pesquisa científica.


O EIC, por sua vez, já nasce como herdeiro direto dessa trajetória, contando com as tecnologias, os profissionais e o espírito inovador que definiram o RHIC ao longo dos anos.


Conclusão


O RHIC foi mais do que um acelerador de partículas — ele foi uma janela para o passado cósmico, uma escola de ciência e um laboratório de inovação. Seu encerramento marca o fim de uma era, mas também o início de uma nova fase, com o EIC pronto para dar continuidade à exploração dos mistérios do universo.


Agora, cabe a nós acompanhar essa transição e valorizar o que foi construído. Afinal, entender o passado do cosmos é, também, compreender melhor o nosso próprio lugar no universo.


Fontes: Olhar Digital, BNL.gov, Science.org


Postar um comentário

0Comentários

Postar um comentário (0)

#buttons=(Aceito!) #days=(21)

Nosso site usa cookies para melhorar sua experiência. Saiba mais
Ok, Go it!